“Rapaz, eu vi esse estádio lotado [e lembrei de quando] eu ficava pensando: ‘Será que um dia na minha vida eu vou conseguir fazer um showzinho?’. E a gente chegou, né? Quando você coloca Deus à frente dos seus planos as coisas começam a acontecer. A gente nunca pode deixar de acreditar.” A reflexão é do cantor Gusttavo Lima, 32, criador e principal atração do Festival Buteco. Sem apresentações presenciais durante a pandemia, o “embaixador”, como é chamado pelos fãs, retomou o evento em São Paulo neste sábado (11).

“A nossa volta está sendo gradativa, de estado por estado”, comenta com os jornalistas presentes, antes de subir ao palco. “Parece que a gente começou do zero. Porque quando você já tinha uma carreira grande, se apresentando todo fim de semana, e de repente para de cantar, tem até que recuperar o condicionamento físico.”

O evento levou cerca de 35 mil fãs de sertanejo ao Allianz Parque. Isso porque o evento, que ocorria desde 2018 até ser interrompido na pandemia, virou um dos maiores do gênero musical. Na internet, a transmissão ao vivo no canal do cantor no YouTube chegou a atingir mais de 103 mil espectadores.

Criado em 2018, o evento ficou em pausa durante a pandemia, mas retorna com a força de um público que quer, mais do que tudo, deixar a pandemia para trás. O desejo é claro tanto verbalmente —com mensagens no palco para “todos se vacinarem logo” para “seguirmos em frente”—, quanto no comportamento, com a quase absoluta ausência de máscaras na multidão (as duas doses da vacina contra a Covid-19 foram exigidas na entrada).

A mensagem absoluta é “esquecer as preocupações”, de preferência com a ajuda do álcool, e aproveitar ao máximo o presente. Enquanto a pressão de novas e velhas variantes do coronavírus for baixa o suficiente para permitir sua continuação, a tendência é de crescimento do Buteco ao longo dos anos, e possivelmente uma popularização ainda maior do formato de festival entre os artistas do sertanejo. A nova onda também ajuda a suprir a falta deste gênero, e outros de grande popularidade, como o forró e o samba, nos principais festivais de música que operam no país. Apesar de abrir as portas para o hip hop, o pop e outros ritmos importados, eventos como o Rock in Rio ou o Lollapalooza ainda não abraçam os ritmos mais brasileiros. O Festival Buteco, por sua vez, não tem medo de celebrá-los.

MISTURA DE RITMOS

Apoiando-se na tradição sertaneja de companheirismo entre artistas, o Festival Buteco também abraça nomes do forró, do piseiro e do pagode. Nos intervalos entre cada show, a música eletrônica era a responsável para manter a animação. A mistura de ritmos aproxima o evento de uma balada, e seu público é o mesmo esperado nas casas noturnas mais populares de São Paulo.

Quem abriu o dia às 14h30 foram Bruno e Denner, apresentando-se para um estádio que ainda estava para encher. A dupla foi seguida por Sorriso Maroto e César Menotti e Fabiano, duas atrações com muitos anos de estrada e que conquistaram a multidão que começava a lotar o Allianz.

“É mais emocionante”, disse o cantor, comparando suas apresentações solo e as participações em festivais. “Primeiro porque a gente encontra os amigos. E a turma vem sabendo que é uma grande festa. Não que o show [solo] não seja, mas é mais direcionado. E aqui, você vem para uma festa, tem DJ, tem o Xand [Avião] no forró, o Gusttavo e a gente no sertanejo, o Sorriso Maroto…”

“Isso aqui é um mix de música e é muito gostoso”, conclui. Os Menotti experimentaram com outros gêneros dentro do próprio show, com uma versão animada de “Será”, de Legião Urbana. O repertório também trouxe covers de canções mais antigas do sertanejo, bem como seus próprios hits de outrora. Fabiano afirma que a escolha por músicas mais nostálgicas foi tomada durante a pandemia. “Nós percebemos que o povo quer coisas que eles já conhecem”, disse.

Já Xand Avião entrou de cabeça nas modinhas mais atuais, trazendo canções populares no TikTok e até arriscando alguns passos de dança que explodiram no aplicativo. Anoiteceu no Allianz durante a performance do músico potiguar, um dos grandes responsáveis pela popularização do forró eletrônico pelo Brasil.

Mas foi Gusttavo Lima quem chegou com maior estrondo, um longo e extravagante show de fogos de artifício anunciando sua chegada, ao som de um solo de guitarra. O cantor ascendeu ao palco com pose de super-herói. Entre um hit e outro, ele lançou beijos para as fãs, abraçou crianças e deixou claro seu protagonismo no evento, assim como no cenário da música sertaneja do país. Viajando com o Festival Buteco pelo Brasil e inclusive expandindo-o para os Estados Unidos — como fez em Boston, em agosto deste ano —, Lima consegue manter o foco em si, mesmo em meio a outros nomes gigantes da cena.

(Leia na íntegra em Folha de São Paulo)